Atualmente cerca de 350 milhões de
pessoas, 5% da população mundial, sofrem de depressão e estima-se que em 2.020 seja a segunda maior causa de
incapacitações no planeta. No Brasil a depressão atinge 10% da população.
Muitas doenças clínicas podem ser
precipitadas ou mesmo agravadas e perpetuadas de acordo com nosso estado mental
e que se não houver tratamento concomitante dessa condição, a eficácia do
tratamento clínico será comprometida. Quando uma pessoa adoece, percebemos que a família em sua totalidade também fica adoecida. As relações
familiares ficam enfraquecidas podendo culminar com quebras de laços afetivos e
familiares.
Para a promoção de saúde mental na infância, precisamos entender
que o ponta pé inicial para formação de nosso cérebro se dá intraútero, durante
a gestação. É fundamental e imprescindível, difundirmos em nossa sociedade o
conceito e a importância dos 1000 dias de vida, que contempla a soma dos 270
dias de gestação (9 meses) e os 2 primeiros anos (730 dias). Nessa fase que
temos as primeiras vivências, sentimentos e sensações positivas e negativas que
servirão de alicerce para que possamos estabelecer boas relações interpessoais
entre pares e familiares. É a fase de maior plasticidade neuronal, o que quer
dizer que estímulos em quantidade e boa qualidade, farão com que conexões
cerebrais e mediadores químicos “trabalhem” a favor de uma adequada formação
cerebral enquanto vivências negativas, como agressões psicológicas, negligência
e/ou abandono afetivo tão comuns na atualidade, possam se traduzir em dano
cerebral. O ambiente em que a criança está inserida, é capaz de “ativar e
desativar” o funcionamento de genes. Uma família desestabilizada, um lar
“adoecido”, uma escola pouco acolhedora podem colaborar para adoecimento de
nossas crianças.
A CRIANÇA E SUA FAMÍLIA NO SÉCULO XXI
O grande desafio da sociedade na atualidade
e que deve perdurar por gerações se chama: TEMPO. Os dias continuam tendo 24
horas. Todos precisamos encontrar uma forma de aliar compromissos pessoais e
profissionais dentro de um dia com “apenas” 24 horas. Tempo é artigo de luxo.
Nosso conceito de o que fazemos num dia, e principalmente o que acreditamos ser
“perder tempo” vem sofrendo alterações desde que fomos “invadidos” pela
internet no final dos anos 90. Quem se lembra da internet discada, deve pensar
como era capaz de esperar tanto tempo. Hoje clicamos e queremos respostas, se
mandamos uma mensagem, queremos resposta, é desesperador visualizar que o
destinatário recebeu a mensagem e não nos respondeu. Além da paciência de
adultos impacientes, nos deparamos com adultos cada vez menos mais egocêntricos.
Empatia é uma qualidade cada vez mais escassa.
É nesse cenário caótico, que estão
inseridas nossas crianças. A criança no século XXI não precisa apenas aprender,
ela precisa conseguir aliar várias habilidades que se interligam e que demandam
mais atividades e mais estresse. Tudo gira em torno de performance. Não basta fazer dança, tem que brilhar nas
apresentações de final de ano, não basta fazer futebol, tem que driblar e ser
“o bom”. Estamos produzindo uma geração de “máquinas de alta performance”, imediatistas, com pouco ou
nenhum repertório para tolerar frustração. Nossos adolescentes, cada vez mais
“virtuais”, iludem e se iludem com “realidades delirantes” em que sorrisos
largos, biquinhos para selfies e “makes” irretocáveis constroem uma felicidade fake que contrasta com seu vazio
existencial. Vivemos numa sociedade não meramente de consumo, mas também
consumista. “Daqui a pouco”, “agora não”, “mês que vem” são frases curtas mas
com um potencial deletério comparável a uma bomba atômica.
Se de um lado temos pais cada vez mais
conscientes que seus filhos precisam ser estimulados desde a primeira infância
e esforçados em prover financeiramente tantas atividades, temos esses mesmos
pais cada vez ansiosos, sem disponibilidade para o afeto, ou disponibilidade de
tempo para participarem ativamente dessas atividades e tão pouco “proverem”
habilidades básicas. Como ensinar a ter paciência?
Quem nunca se irritou ou “ficou ansioso”
para ver o que aconteceria após o intervalo comercial? Pois então, hoje a
realidade é outra. Crianças (e nós também) não precisamos nem ao menos aguardar
nosso programa favorito ou o intervalo dos comerciais: podemos assisti-lo a
qualquer hora, e qualquer lugar. As refeições não são mais momentos de conversa
em família, todos prezam pela tranquilidade e isso é facilmente alcançado disponibilizando
TVs, tablets e celulares para as crianças na hora das refeições.
A conta desse modo de vida online chegou e os estudos
demonstram que a prevenção é o melhor a fazer. Vamos desacelerar e “ensinar as
crianças a terem paciência”, ensinar que “menos pode ser mais” mas antes isso
vai exigir um envolvimento maciço da família.
Procurar um psicólogo que oriente nas
rotinas do dia a dia, que aponte pontos fortes e fracos da dinâmica familiar
pode ser de extrema valia. Investir em brincadeiras que não envolvam
tecnologia, de preferência envolvendo toda a família, como jogos de tabuleiro,
montar quebra cabeças, brinquedos de encaixe, estimular a construção de
brinquedos a partir dos já existentes utilizando de papel, caixas de papelão e
tintas, colas pode ser muito divertido e o resultado da obra de arte, essa sim
pode ser filmada e reproduzida com uso de tecnologias, que nesse caso recebe status de coadjuvante e não
protagonista.
O uso de tecnologia não deve ser encarado
como algo destrutivo, que veio para atrapalhar, mas sim, um caminho sem volta e
precisamos nos adaptar a essa tecnologia, ajudando e inserindo regras para seu
uso consciente, dessa forma podemos ter um feedback
positivo no desenvolvimento infantil.
DICAS
PARA CONTRIBUIRMOS PARA A SAÚDE MENTAL DAS CRIANÇAS
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#dicadaespecialista
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Tempo de tela:
?
Antes
de presentear seu filho com um tablet ou um celular, estabeleça regras claras
e que sejam fáceis de entendimento e de serem cumpridas por ambas as partes:
pais e filhos. De nada adiantam ameaças, ou estabelecer punições que não
serão cumpridas.
?
O
excesso de tempo de tela prejudica o sono, altera o humor, reduz a capacidade
cognitiva e contribui para o sedentarismo. Entram aqui celular, televisão,
tablet e computador.
Rotina:
?
Nosso
cérebro funciona melhor com rotinas.
?
Crianças
precisam de rotina para aprender a colocar ordem no mundo.
?
Instaure
hora certa para acordar, comer, tomar banho e dormir.
Sono:
?
Dormir
é essencial. Durante o sono, o cérebro concretiza as memórias do dia.
— De 4-12 meses: de 12 a 16 horas, incluindo sonecas
— De 1-2 anos: de 11 a 14 horas, incluindo sonecas
— De 3-5 anos: de 10 a 13 horas,
incluindo sonecas
?
Dormir
bem é importante para consolidação do aprendizado
?
Durante
o sono, liberamos substâncias importantes para o nosso crescimento
Leitura:
Leia
para seu filho!!! O hábito fortalece o vínculo afetivo, ajuda a lidar com as
emoções e colabora para o raciocínio, o aprendizado da linguagem, o estímulo
à atenção e à memória.
Brincadeiras:
?
Estimule que seu filho brinque, e muito.
?
Procure brincar com ele. Utilize brinquedos e brincadeiras que
use de criatividade.
?
Procure usar a tecnologia como coadjuvante, fazendo filmes,
vídeos, fotos das brincadeiras para curtir depois.
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DEPRESSÃO NA INFÂNCIA
A depressão afeta cerca de 2% das crianças
e 5% dos adolescentes do mundo. Na infância
não há diferença de prevalência entre os gêneros.
As manifestações de depressão infantil podem não
cursar com sintomas de melancolia e tristeza profunda, como acontece no adulto.
A criança não sabe dar esse tipo de informação, nomear essas sensações. Uma
forma comum de “falar” é usando o próprio corpo, ou seja, somatizando.
Somatização nada mais é do que uma forma de expressão física de sensações e
sentimentos: dor abdominal, dor de cabeça, febres sem fator detectável. Podemos
observar um quadro de irritabilidade, sensação de “nervos à flor da pele”. A
criança pode ficar “mais aérea”, desatenta, podendo ter queda no rendimento
escolar usual. Recusa escolar devido dificuldade de se separar de figuras de
segurança/familiares. Alterações de sono são comuns, com presença de mais medos
e idas mais frequentes para o quarto dos pais, em crianças que já dormem
sozinhas. Pode haver redução do apetite com perda de peso. Maior isolamento
social e labilidade emocional com choro fácil.
#dicadaespecialista
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A primeira coisa é enxergar
a criança.
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Perceber de forma
precoce as alterações sutis de comportamento e procurar ajuda
especializada.
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Acolher a criança e
suas queixas físicas se existirem, legitimar esse sofrimento evitando
frases do tipo:
·
“é
frescura”,
·
“na minha
época, resolvia com chinelo”,
·
“Para com
isso, para que tanto chororo?”
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O tratamento vai depender da intensidade dos sintomas e do
impacto que esses sintomas podem ter na vida social escolar e familiar da
criança. Sintomas leves, somente um acompanhamento com psicólogo habilitado a
tratar crianças pode ser eficaz e seguro. Caso julgue necessário, o próprio
profissional da psicologia pode fazer o encaminhamento para o psiquiatra
infantil a fim de trabalharem em equipe juntamente com a escola e a família.
Muitas vezes, a própria escola sinaliza as alterações de comportamento para a
família. Casos moderados a graves, é imperativo a introdução da medicação e o
encaminhamento para associação com psicoterapia.
Sinais de
alerta
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Problemas para
dormir:
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aumento de
medos incomuns para a idade;
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voltar para
cama dos pais ou necessitar de companhia;
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Agressividade
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Irritabilidade
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Apatia: observar como assisti TV, por exemplo. É comum as
crianças assistirem TV interagindo com ela, participando dos desenhos...
perceba se há pouco entusiasmo.
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Falta de prazer
em brincar
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Excesso ou
falta de fome
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Recusa em interagir
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Atraso na
comunicação (verbal ou mesmo por olhar)
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Pesadelos
recorrentes
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Problemas
repetidos de escape de xixi ou cocô após já ter aprendido
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