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Casos de depressão infantil aumentam. Reconheça os sinais

Publicado em 01/10/2015

17/08/2015 - 08h33 - Atualizado em 17/08/2015 - 08h34
Autor: Laila Magesk | lmagesk@redegazeta.com.br


Fique atento se o seu filho anda com os nervos à flor da pele, insônia e sem fome


Após completar seis anos, a pequena Joana - nome fictício - começou a sentir dores na barriga. Como no dia anterior tinha sido o aniversário dela , a mãe achou que alguma comida tinha feito mal à filha. Mas a dor continuou. A família fez um longo caminho até encontrar o diagnóstico de depressão, doença que afeta cada vez mais crianças e adolescentes.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno depressivo é a principal causa de incapacidade de realização das tarefas do dia a dia de 10 a 19 anos.

Por mais que pareça estranho, o problema pode começar em qualquer idade, com sintomas diferentes dos que atingem os adultos. “A depressão infantil se manifesta através do comportamento da criança. Adultos tendem a verbalizar a tristeza. As crianças mostram que estão tristes com atitudes, através de jogos, desenhos ou mesmo se mostrando apáticas e retraídas”, explica o professor do curso de Psicologia da Ufes Adriano Jardim.

A psiquiatra infantil Fernanda Mappa explica que a maioria das crianças não vai dizer que está deprimida. “O relato de tristeza acaba sendo mais comum a partir dos 10 anos de idade.”

Sintomas


Os pais de Joana, que moram no interior de Afonso Cláudio, Região Serrana do Estado, levaram a menina a diferentes médicos. Ela tomava um remédio, a dor passava, mas se a mãe saísse do lado dela para ir ao banheiro, os sintomas voltavam. “Não queria desgrudar de mim. Quando a gente falava que ia sair, ela sentia tanta dor que parecia que ia morrer”, lembra a mãe.

Vários exames físicos não mostraram nada, e o pediatra percebeu que era algo psicológico. Na mesma idade, a menina entrou na escola, e a situação piorou. “Era muito choro. Tive que ir dois meses junto. Levamos a um outro pediatra e depois a um neurologista, que mudou a medicação controlada.”

Ela ficou tão nervosa que arrancou a pele da irmã com as unhas. “Fiquei desesperada, porque na escola também batia nos coleguinhas.”

Segundo a psiquiatra Fernanda, irritação, dor de cabeça, diarreias, dor abdominal e febre sem motivos são sinais de depressão infantil. “Quando a criança não tem uma doença física e os exames estão normais, esses sintomas são chamados de somatizações.”

Após passar por outros médicos, a mãe da menina encontrou o tratamento ideal. Hoje, com 10 anos, Joana está bem de saúde. “Há três anos ela faz tratamento com a doutora Fernanda. Minha filha tomando o remédio, parece que não tem nada. Mas se tirar, ninguém consegue controlá-la.”

A psiquiatra afirma que episódios leves devem ser conduzidos somente com psicoterapia, já casos moderados a graves vão precisar acrescentar remédios ao tratamento.

Causas


Os pais da menina não conseguem entender os motivos que levaram a filha a ter depressão infantil. “Nós temos uma família tranquila. Até a minha filha ter, eu achava que não existia essa doença. A criança parece que não tem preocupação. Agora eu sei que existe e é muito difícil”, avalia a mãe.

Predisposição genética e histórico familiar podem interagir com outros fatores, como o ambiente em que a criança está inserida, para dar início a doença. “Um lar turbulento, com conflitos entre os pais, faz toda diferença na origem da depressão”, diz a médica.

Adolescência


Com o passar dos anos, os sinais da doença mudam. “Nos adolescentes, o isolamento pode aparecer com maior evidência, principalmente pela dificuldade de pedir ajuda e de demonstrar fraqueza”, afirma a psicóloga Ana Beatriz Venturim.
Baixa autoestima e problemas em se relacionar são outros sintomas. “Essa é uma etapa desafiadora do desenvolvimento psíquico, com muitas mudanças corporais e psicológicas em um curto período. Por isso, exige atenção e investimento em comunicação e flexibilidade por parte dos pais”, recomenda o professor da Ufes.

Aos 15 anos, Paulo - nome fictício -, hoje com 19, veio morar em Vitória com o irmão. Sem amigos e vivendo em outra cidade, o jovem começou a desenvolver a doença. “Na escola, ninguém deixava eu entrar nos grupos, não fazia educação física e estava isolado.”

Paulo começou a ter problemas com as notas, só queria ficar trancado dentro do quarto e chegou a pensar em tirar a própria vida. “Tudo era ruim, vivia chorando e não conseguia fazer nada.”

A solução do problema só veio com a atenção dos pais, que perceberam que algo estava errado e levaram o filho de volta para casa. Depois do tratamento com psicólogo e psiquiatra, Paulo melhorou. Ele faz faculdade e tem amigos, mas ainda toma a medicação de controle. “É bem melhor viver sem isso.”

Frases


"Não há estatísticas precisas, mas estima-se que de 1% a 2% das crianças no mundo tenham depressão”
Adriano Jardim
Professor da Ufes

"Percebemos uma demanda cada vez maior de crianças e adolescentes com depressão nos consultórios médicos e de Psicologia”
Fernanda Mappa
Psiquiatra infantil

Como ajudar o seu filho


Presença


Acredita-se que o aumento do número de casos seja devido ao estilo de vida urbano, com os pais tendo que passar mais tempo trabalhando e menos com as crianças. Além disso, elas estão mais confinadas a espaços restritos nas grandes cidades

Separações


O número de separações tem aumentado e as crianças têm que dar conta de conflitos familiares cada vez mais cedo

Exagero


O excesso de atividades formais que os pais colocam os filhos pode sobrecarregá-los, causando depressão. Atividades lúdicas são livres, sem compromisso de horário ou regras. Aulas de música, língua estrangeira e esporte precisam ser dosadas. Bullying e agressividade também podem ser disparadores do problema

Alternativas


Brincadeira em parquinhos ao ar livre, sentindo a areia nos pés, tem função terapêutica e é usada, inclusive, como estimulação sensorial. Empilhar caixinhas de leite, lata de leite virar instrumento musical... Enfim, nada muito estruturado. A criança não precisa ser ensinada a brincar, ela é capaz de produzir as próprias brincadeiras, usando a criatividade

Prevenção


Deve-se sempre levar a sério o comportamento das crianças. O primeiro passo é identificar o problema no começo. E depois buscar uma avaliação e orientação junto a um profissional

Consequência


Se não tratada ou se tratada de forma incorreta, há uma chance maior de se tornarem adolescentes e adultos mais inseguros, com mais dificuldades em encarar e transpor desafios da vida

Sintomas


Na infância, a irritação e o desinteresse por atividades que antes eram prazerosas predominam. Na adolescência, o discurso melancólico e episódios de automutilação são cada vez mais frequentes. O adolescente pode agir sem pensar, aumentando a chance de suicídio

Gênero


Em crianças, há um predomínio do sexo masculino. Na adolescência, a quantidade se iguala entre os sexos. Após esse período, as mulheres são maioria. Há uma tendência mundial de aumento do números de adolescentes deprimidas que se mutilam

Apoio


A família precisa estar presente no tratamento. Não existe um trabalho com criança sem a presença dos familiares


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Fonte: psiquiatra infantil Fernanda Matta, psicólogos Adriano Jardim e Ana Beatriz Venturim


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