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Para que dormir? Saiba mais sobre distúrbios do sono na infância e adolescência.

Publicado em 24/03/2017

Com o retorno às aulas, retorno às atividades extracurriculares e fim do horário de verão, parece que o ano finalmente vai começar...
Algumas crianças vão demandar apenas alguns dias para se readaptarem, outras parecem que não se adaptam nunca a rotina de sono, mesmo os pais sendo atentos e fazendo todo o processo de higiene do sono.
E sono, não é uma escolha. PRECISAMOS DORMIR, E BEM. 
QUANDO CRIANÇA, PRECISAMOS DORMIR MUITO, E BEM.
Nosso objetivo agora é abordar os DISTÚRBIOS DE SONO.
Sabemos que 3 em cada 10 crianças até os 12 anos apresentam distúrbios do sono e a frequência é ainda maior em bebês: 4 em cada 10 deles não dormem bem, o que compromete o desenvolvimento, tanto pondero estatura, quanto cognitivo.
Para entendermos o que é DOENÇA/DISTÚRBIO, primeiro precisamos entender o que é fisiológico, o que é “normal”, e é isso que abordaremos hoje.
Basicamente podemos dividir o sono em duas fases, que formam um ciclo com duração total de 90 minutos. Um ciclo do sono é repetido de quatro a cinco vezes por noite.
- REM (Movimento Rápido dos Olhos): O REM é caracterizado pela intensa atividade cerebral. Nessa fase ocorrem movimentos oculares rápidos e os sonhos. Embora a fase do REM não resulte em um descanso profundo, ela é importante para nossa recuperação emocional.  
- NREM (Movimento Não Rápido dos Olhos). O estado do NREM corresponde a 75% do período do sono, sendo dividido em quatro fases:
- Estágio 1: É a fase de sonolência, onde o indivíduo começa a sentir as primeiras sensações do sono. Nessa fase a pessoa pode ser facilmente despertada;
- Estágio 2: Dura em média de 5 a 15 minutos. No estágio 2 a atividade cardíaca é reduzida, relaxam-se os músculos e a temperatura do corpo cai. É bem mais difícil de despertar o indivíduo.
- Estágio 3: Muito semelhante com o estágio 4, diferencia-se apenas em relação ao nível de profundidade do sono, que é um pouco menor.
- Estágio 4: Dura cerca de 40 minutos. É a fase onde o sono é muito profundo.
A fase do NREM é muito importante para o corpo, uma vez que é nela que ocorre a secreção dos hormônios do crescimento, sendo também essencial para a recuperação de energia física. É na fase NREM que realmente existe o descanso profundo e menor atividade neural. Após a fase 4, o indivíduo retorna ao estágio 3, estágio 2 e entra na fase REM.
Padrão Normal de Sono :
* Ritmo circadiano ou ciclo circadiano (do latim  cerca de + diem dia) designa o período de aproximadamente 24 horas sobre o qual se baseia o ciclo biológico de quase todos os seres vivos, sendo influenciado principalmente pela variação de luz, temperatura, marés e ventos entre o dia e a noite.
Os ritmos circadianos* já estão estabelecidos desde o período perinatal. O RN apresenta seu padrão de sono dentro de ritmo ultradiano (<24horas), e, só após o período neonatal, o sono passa a apresentar ritmo circadiano (equivalente a 24horas).
Ao nascimento, o RN apresenta períodos de 3-4 horas de sono contínuo, intercalados por cerca de 1 hora de despertar. Esse ritmo ocorre de forma contínua durante o dia e a noite.
Ao final do primeiro mês de vida, os períodos de sono noturno passam a ser mais longos, refletindo uma melhor adaptação do ciclo sono-vigília. Daí a necessidade de soninhos diurnos com quarto iluminado e o soninho da noite com quarto escuro.
Durante o terceiro mês de vida, o sono passa a iniciar na fase NREM, e até o sexto mês de vida, 90% dos lactantes já devem ter efetuado esta troca.
Aos seis meses, o período mais longo de sono ininterrupto não ultrapassa 6 horas. A noite é dividida em dois períodos contínuos de sono, intercalada por um despertar.
Entre 9-10 meses, o lactente dorme em média 9-10 horas por noite, e 2-3 horas por dia, divididas em duas sestas.
Aos 12 meses, deve ocorrer a consolidação do sono noturno, com a permanência de 1-2 sestas diurnas.
Entre 2-3 anos ocorrem longos períodos de sono noturno (mais ou menos 10h), e uma ou duas sestas diurnas (meio da manhã e inicio da tarde), que não ultrapassam 2 horas. Aos 3 anos, é atingido o percentual adulto de sono REM, devendo este constituir no máximo 25% do tempo total em sono.
A partir dos 5 anos, o sono noturno já deve estar consolidado.
Entre 5-10 anos, ocorre diminuição gradativa do tempo total em sono, chegando a cerca de 8horas.
Na adolescência, tende a ocorrer uma redução do sono noturno, havendo diferença nos dias letivos e fins de semana. Daí dizermos que há uma tendência fisiológica a inversão do padrão do sono, e é o que observamos cada vez mais cedo, mesmo antes da adolescência, motivados por uso excessivo e sem regras de mídias eletrônicas.

E a tal melatonina nisso tudo?  
Do ponto de vista endógeno, o organismo humano apresenta ciclos complexos de secreção hormonal e de neurotransmissores, que visam exatamente à regulação do nosso ciclo circadiano. Todo esse complexo sistema, vai determinar quando estamos acordados (vigília) ou dormindo (sono).
Os estímulos luminosos atuam diretamente no ciclo sono/vigília, agindo tanto no centro encefálico (hipotálamo) como também na glândula pineal. É a noite que essa glândula  secreta a melatonina, um neurohormônio que tem seu pico máximo nas primeiras horas, participando da tendência do indivíduo a conciliar o sono. Este pico é considerado um dos “portões” de entrada no sono. 
Assim, se um indivíduo força o estado de vigília, lutando contra o sono neste momento propício, perde a entrada através deste portão determinado pelo pico de secreção de melatonina, tendo dificuldades de conciliação do sono após. Daí, a necessidade da danada da rotina. Reduzir a luminosidade da casa, evitar TV e outras mídias...
O hormônio do crescimento tem seu pico de secreção durante o sono NREM de ondas lentas, assim como a testosterona. Distúrbios que levam à fragmentação do sono em crianças (como asma brônquica e distúrbios respiratórios do sono) podem ter repercussões negativas no crescimento pondo-estatural das mesmas. Dormir é importante também para crescer.
Alguns peptídeos produzidos no trato gastrointestinal, durante o processo de digestão, como a são comprovadamente indutores do sono NREM. Isto explica em parte a sonolência pós-prandial, além da maré alcalina do sangue provocada pelo aumento da secreção gástrica. 
Outros hormônios serão liberados para nos preparar para o estado de vigília, logo nas primeiras horas da manhã. Há aumento da secreção do hormônio tireoidiano, de cortisol e de insulina, que são facilitadores da vigília, seja por aumento da taxa metabólica para a iniciação das atividades do dia, ou indiretamente pelo aumento da glicemia e da utilização de glicose pelas células.
Dentre tantos mecanismos endógenos sincronizadores do ciclo vigília-sono, destaca-se a curva de variação da temperatura corporal interna. Esta sofre mudanças em torno de meio grau centígrado nas 24 horas, o que é suficiente para facilitar ou dificultar a ocorrência de sono. Nas primeiras horas da manhã, a curva começa a ascender, facilitando a manutenção da vigília. A temperatura interna máxima é atingida no período da tarde, entre as 16h00min e 18h00min horas, começando a decair lentamente a partir do início da noite. Esta queda é facilitadora da conciliação do sono. Na madrugada, o indivíduo atinge a temperatura corporal interna mais baixa, o que é favorecedor do sono REM. Esta queda térmica ocorrerá mesmo que a pessoa se mantenha acordada em determinada noite. A seguir, a partir das 06h00min horas da manhã, a temperatura começa a ascender, facilitando o despertar matinal.
Dormir parece fácil, mas existe  muita coisa envolvida e não é perda de tempo como algumas pessoas comentam por ai. Precisamos ficar atentos para mantermos uma rotina adequada de sono, uma alimentação leve a noite, e principalmente evitar estímulos luminosos ao anoitecer.  Menos computadores, telefones e televisão, mais leituras e conversas em família, por favor! 
Diante de todas estas informações e  números que conhecemos hoje, precisamos entender o que é normal, o que faz parte de cada faixa etária e não podemos considerar os problemas com o sono, apenas “uma fase” que vai passar... Muitas vezes, é necessária além de mudança nos hábitos, uma intervenção medicamentosa.  Então não perca mais tempo e muito menos o sono.  Marque agora mesmo uma consulta e vamos ajudar seu filho e sua família a entrar no ritmo certo.


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Fonte: istúrbios do Sono - jornal de pediatria - vol. 78, supl.1, 2002. Fernandes RMF. O sono normal. Medicina (Ribeirão Preto) 2006; 39 (2): 157-168. http://revista.fmrp.usp.br/2006/vol39n2/1_o_sono_normal1.pdf, acesso em 16/03/2017

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